Porque envelhecemos? Quando começamos a envelhecer? Há algum limite definido do quanto podemos viver? Quais marcadores de envelhecimento são mais precisos? Há mecanismos de desacelerar o envelhecimento? Porque envelhecemos? Quando começamos a envelhecer? Há algum limite definido do quanto podemos viver? Quais marcadores de envelhecimento são mais precisos? Há mecanismos de desacelerar o envelhecimento?
Estas são questões que humanidade tem feito ao longo de toda sua existência, mas com o avanço nas últimas décadas da biologia molecular, decodificação do DNA humano e da ciência como um todo, tem permitido que cientistas de todo o mundo conheçam melhor os mecanismos de envelhecimento humano.
Muitas teorias têm sido propostas, e se organizam em duas categorias: teoria do envelhecimento programado e do envelhecimento por dano biomolecular.A teoria do envelhecimento programado propõe que o envelhecimento é regulado por uma tabela biológica, dependente da expressão de genes reguladores dos processos de manutenção, reparo e resposta de defesa. A teoria do envelhecimento por dano biomolecular propõe que as causas do envelhecimento dependem predominantemente das agressões que o meio ambiente oferece aos organismos vivos, que acumulam danos em vários níveis. A teoria do envelhecimento programado tem 3 sub-categorias:
1- Teoria da Longevidade Programada:
O envelhecimento é o resultado do acionamento e desligamento sequencial de alguns genes, definindo senescência como o momento que surgem as manifestações de deficits relacionados à idade. (Davidovic M, Sevo G, Svorcan P, Milosevic DP, Despotovic N, Erceg P. Old age as a privilege of the “selfish ones” Aging and Disease. 2010;1:139–146).2- Teoria Endócrina. Relógios biológicos atuam através de hormônios controlando o ritmo do envelhecimento. Estudos recentes de Van Heemst, propõe que as vias dos sinalizadores Insulina/IGF-1 desempenham um papel fundamental na regulação hormonal do ritmo do envelhecimento. (Van Heemst D. Insulin, IGF-1 and longevity. Aging and Disease. 2010;1:147–157)3- Teoria Imunológica. O sistema imunológico é programado para debilitar-se com o avanço da idade, levando à progressiva vulnerabilidade às doenças infecciosas e crônicas. É sabido que o sistema imunológico atinge seu ápice de efetividade na puberdade, e gradualmente declina com o envelhecimento. Há maior prevalência na senescência das doenças infecciosas, inflamatórias, cardiovasculares e câncer. (Rozemuller AJ, van Gool WA, Eikelenboom P. The neuroinflammatory response in plaques and amyloid angiopathy in Alzheimer’s disease: therapeutic implications. Curr Drug Targets CNS Neurol Disord. 2005;4:223–233).A teoria do envelhecimento por dano biomolecular tem 5 sub-categorias:1- Teoria do desgaste pelo uso. Células e tecidos vitais sofrem desgaste com o envelhecimento. Esta teoria proposta por August Weismann em 1882, e é aceita até hoje.
2- Teoria do metabolismo do oxigênio basal:
Quanto maior a taxa do metabolismo do oxigênio basal, menor será a expectativa de vida do indivíduo. (Brys K, Vanfleteren JR, Braeckman BP. Testing the rate-of-living/oxidative damage theory of aging in the nematode model Caenorhabditis elegans. Exp Gerontol. 2007;42:845–851)
3- Teoria das ligações cruzadas:
Proposta por Johan Bjorkste, o envelhecimento é resultado do acúmulo do dano cruzado de proteínas, células e tecidos, desacelerando os processos biológicos resultando no envelhecimento. (Bjorksten J, Tenhu H. The crosslinking theory of aging–added evidence. Exp Gerontol. 1990;25:91–95).
4- Teoria dos radicais livres:
Ou mais recentemente chamada de teoria das espécies reativas de oxigênio. Introduzida por Gerschman em 1954 e desenvolvida por Denham Harman, propõe que o radical livre superóxido e outros, danificam componentes celulares macromoleculares, predispondo às doenças e acelerando o envelhecimento dos tecidos. Macromoléculas como ácidos nuclêicos, lipidios, açúcares e proteínas são suscetíveis aos ataques dos radicais livres. (Gerschman R, Gilbert DL, Nye SW, Dwyer P, Fenn WO. Oxygen poisoning and x-irradiation: a mechanism in common. Science. 1954;119:623–626. Harman D. Aging: a theory based on free radical and radiation chemistry. J Gerontol. 1956;11:298–300).
5- Teoria do dano ao DNA:
O DNA de todas as células sofre dano continuamente. Enquanto a maioria destes danos são reparados, alguns se acumulam quando a DNA polimerase e outros mecanismos de reparo não conseguem reparar os danos na mesma velocidade com que são produzidos. Recentemente, Michael Ristow demonstrou evidências que a restrição calórica pode aumentar a expectativa de vida de animais de laboratório, devido ao aumento da produção de agentes antioxidantes em resposta. (Ristow M. Glucose restriction extends Caenorhabditis elegans life span by inducing mitochondrial respiration and increasing oxidative stress.Cell Metab. 2007;6:280–293).
Em 1961, Hayflick teorizou que a habilidade das células humanas de dividirem-se era limitada a 50 divisões, à partir desse limite, as células parariam de efetuar meioses. Em 1996 Olovnikov demonstrou a teoria do encurtamento do DNA telomérico que sinaliza a suspensão das divisões da celula. (Olovnikov AM. Exp Gerontol. 1996 Jul-Aug;31(4):443-8.Telomeres, telomerase, and aging: origin of the theory).
Apesar das muitas teorias dos processos de envelhecimento, o único consenso é que todas interagem entre si de forma complexa, e contribuem no processo de envelhecimento, e que, a prevenção das doenças através de um estilo de vida saudável, aliado aos avanços da medicina, são os principais protagonistas no aumento da expectativa de vida da humanidade. É essencial lembrarmos que o melhor entendimento dos processos de envelhecimento e a criação dos recursos para a uma longevidade saudável, estão vinculados a sustentabilidade do equilíbrio do meio ambiente, para que as futuras gerações tenham garantidas as condições de existência em nosso frágil ecossistema.